(51) 3035.3606
(51) 9937.53003
contato@napvs.com.br
07:30 - 21:00
Seg - Sex
08:00 - 12:00
Sábado
23 de Novembro, 2018
O LUTO DA TRAIÇÃO
Amor.
Um suspiro na boca, o coração bate forte e a vida, de repente, desacelera. O
amor surge como uma promessa: de felicidade, de unidade ou daquilo que está por
vir. O amor é uma promessa de proteção; é embalado pela fantasia do ‘para
sempre’. Nesse sentido, cria uma espécie de lapso no tempo: um espaço onde
estamos guardados; um porto seguro.
A fidelidade, discorre Christian
Dunker em seu livro Reinvenção da Intimidade, opera uma espécie de promessa que
anda nesse sentido: promete suspender a morte ao enunciar que, de modo sempre
idêntico, o amor será para sempre. Ora, esta é uma ficção. Necessária, porém,
ainda uma ficção.
A traição envolve a violação deste
contrato. Implica a quebra dessa promessa. Algo morre dentro do traído – mesmo
que nunca tenha vindo a existir senão no campo da idealização e do sonho. O
‘para sempre’ encontra seu fim.
Como toda morte, a traição implica
trilhar o caminho do luto. Luto pela relação. Luto pela confiança. Luto pelos
sonhos. Como tal, percorrerá o caminho das cinco fases, conforme propostas por
Kübler-Ross.
Primeiro a negação. Não é fácil
descobrir que se foi traído. A dor que emerge deste golpe psíquico – lembremos,
algo corre o risco de morrer dentro da gente – faz com que seja preciso se defender
dela. Para algumas pessoas, ela se torna patológica. Quem nunca encontrou o
traído ou traída que não acredita mais nem nos próprios olhos?
Depois vem a raiva. Raiva de quem
traiu. Raiva de si por ter sido cego(a). Raiva do outro, o rival. Algo que, no
calor do momento, pode se transformar em agressão.
A terceira fase é da barganha. É ora
do “e se...”. E se tivesse feito diferente... E se tivesse feito mais (ou
menos) ... E se... É uma forma de tentar, ainda que minimamente, obter algum
controle da situação.
Em seguida, a depressão. Não tem
jeito. Aconteceu mesmo e a traição cobra um preço. Não dá mais para fingir que
não aconteceu nada e nem tapar o sol com a peneira. E isso dói.
Por fim, a aceitação. Aceitar não
significa apagar o que aconteceu, mas integrar o acontecimento ao Eu e
descobrir quem se é a partir disso. Significa mais aceitar que está modificado.
A traição, como processo de luto, pode ser uma jornada árdua. Isso porque ela envolve emoções completamente antagônicas: amor e ódio. Envolve também frustração e dano narcísico. Seja qual for o caminho, continuar junto ou se separar, será sempre importante olhar para isso. De outra forma, a ferida pode continuar a machucar. Ah, e tudo isso também é válido para quem foi o agente da traição! Ambos os lados precisam de cuidado psíquico.
Luiz Mateus Pacheco Psicólogo do NAP