Invisibilidade Social

25 de Janeiro, 2018

Você já imaginou caminhar um dia na rua e ninguém o perceber, e ninguém o notar? Isso no mínimo causaria grande estranheza e até mesmo desconforto. No entanto, muitas pessoas vivem assim, em um grande anonimato, absolutamente invisíveis! Catadores de lixo, garis, lixeiros, faxineiras e tantos outros cargos pouco valorizados pelo tipo de atividade desenvolvida, tornam-se meros uniformes utilizados por indivíduos que passam a ser invisíveis enquanto desenvolvem tais atividades.

Para ilustrar esta situação, trago o caso de um doutorando em psicologia da USP, Universidade do Estado de São Paulo, que, com a finalidade de realizar uma atividade acadêmica, trabalhou no campus da mesma universidade como gari e viu seus professores e colegas de aula passarem por ele nos corredores sem nota-lo quando estava uniformizado. Inicialmente esta experiência era para falar sobre a humilhação que os ocupantes de cargos desprovidos de glamour sofriam, mas ele constatou que a questão da invisibilidade social era muito mais agressiva e desconcertante para quem a experienciava.

Em pleno século XXI ainda ouvimos falar sobre cargos superiores e inferiores, como se o valor da atividade desenvolvida por uma pessoa estivesse atrelado a sua colocação. Nossa tendência humana de ignorar aquilo que não conseguimos lidar acaba sendo interpretado como falta de reconhecimento acerca da importância destes trabalhos, afinal ser empático em alguns momentos pode nos causar dor e desconforto.

Já é um grande avanço podermos olhar para estas questões e pensar no sujeito que existe dentro de um uniforme. Ele tem sonhos, tem desejos e vontades. Ele sente, como qualquer outra pessoa a necessidade de um olhar que o constitua, que o reflita. Com esta visão sensível, porém reflexiva e inquietante, temos condições de atualizar a forma que vemos o mundo, as pessoas que nos cercam e até mesmo nossos valores. Assim poderemos ter uma nova geração com menos julgamentos e mais atitudes. Toda mudança requer um fazer diferente. Então que possamos construir um novo olhar de igualdade para todos, indiferente de cargo, cor ou crença.


Scheila Flesch Psicóloga do NAP